Amazônia

Na Amazônia, mudanças climáticas já afetam bioeconomia

Alterações nos ciclos da região, com secas severas, ameaçam o cultivo sustentável de espécies que se transformaram fontes de renda e ajudam a preservar a floresta

Vistos como alternativa para o desenvolvimento sustentável na Amazônia, os negócios da bioeconomia sentem os efeitos das mudanças climáticas. Comunidades agroextrativistas, produtores agroflorestais e até grandes empresas que trabalham com insumos nativos têm mapeado as consequências de secas mais severas, como a de 2023.

Um estudo de pesquisadores brasileiros de cinco universidades, publicado recentemente na revista científica Biological Conservation, indica que, nos próximos 30 anos, as áreas climaticamente adequadas ao extrativismo na Amazônia Legal sofrerão um declínio de 91% de sua extensão total.

A pesquisa, que avaliou 18 espécies de árvores e palmeiras, indica que castanha-do-pará, açaí, andiroba, copaíba, seringueira, cacau e cupuaçu correm risco de desaparecer ou ter queda na produção. Entre as 56 reservas extrativistas estudadas na região, 21 correm risco de perder uma ou mais espécies exploradas.

Mapeamento de riscos

Cofundadora da Deveras Amazônia, que trabalha com a cadeia da bioeconomia para venda de produtos baseados em insumos nativos, Valéria Moura, doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), tem buscado ampliar a rede de comunidades fornecedoras, diante da escassez de alguns ingredientes. Criado por ela e dois pesquisadores, o negócio tem 24 parceiros de seis comunidades do Baixo Amazonas, que produzem cupuaçu, camu-camu, açaí, vitória-régia e flor de jambu, entre outros.

— No início, quando começamos a trabalhar, tínhamos muita matéria-prima e muito ingrediente, que até não eram aproveitados. Mas faz alguns anos que vemos uma mudança brusca, que chegou ao auge na seca passada — conta Valéria, que notou ainda diferença na qualidade de frutos e ervas.

Segundo levantamento da Embrapa, com dados do IBGE, dezoito produtos da sociobiodiversidade amazônica superaram R$ 11 bilhões em valor de produção em 2022. Desse montante, a maior parte vem de açaí, cacau e castanha-do-pará. Estudo do WRI Brasil prevê que a Nova Economia da Amazônia (NEA) pode adicionar R$ 40 bilhões anuais ao PIB da região até 2050, por meio da conservação de ativos naturais, fortalecimento da bioeconomia e agropecuária e energia de baixa emissão de carbono.

Diretor-superintendente do Sebrae do Pará, Rubens Magno lembra que os negócios afetados pelo clima são justamente aqueles que, além de fomentar a economia para comunidades da região, geram renda com “floresta de pé”, ajudando a preservar a Amazônia.

Os efeitos da mudança no clima estão também no radar de grandes empresas. Com uma cadeia de fornecedores de castanha do Brasil, cupuaçu, patauá, buriti e ucuuba, entre outros, a Natura passou a monitorar e classificar espécies mais vulneráveis às mudanças do clima, como a castanha.

— De modo geral, o período de safra dessas espécies sofreu alterações, como, por exemplo, redução do período, mudança no início e fim da safra, antecipando o início ou postergando o final. Isso ocorre de forma diferente para cada espécie — explica Mauro Costa, gerente sênior de Relacionamento e Abastecimento da Sociobiodiversidade da Natura.

Para garantir o abastecimento dos insumos em risco, a fabricante de cosméticos adotou política de compra diferente, com uma porcentagem acima da demanda real, para formar um estoque de segurança.

Para fundos de investimentos e aceleradoras de negócios verdes na floresta, os riscos do clima entraram na conta para novos projetos. Segundo mapeamento do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), há cerca de 200 startups de bioeconomia na Amazônia Legal. Dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) mostram que a Região Norte reúne 5% das empresas de base tecnológica brasileiras dos vários setores.

— A questão do clima e do desmatamento, com perda de biodiversidade, não afeta só a questão econômica — diz Leonardo Rodrigues, consultor do Idesam. — Elas afetam a identidade dessas populações, processos históricos e até alternativas de se manter a floresta de pé com geração de renda.

Ana Euler, diretora de Negócios da Embrapa, diz que soluções de adaptação climática podem ser adotadas para ajudar na preservação de cultivos sustentáveis sob ameaça na Amazônia, como tecnologias de manejo florestal e sistemas de produção mais integrados:

— Mas não há bala de prata. Em cada território, às vezes para os mesmos produtos, você vai precisar desenvolver estratégias que unem conhecimento científico com conhecimento tradicional.

A matéria completa é de O Globo e pode ser acessada na versão online no link abaixo

https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/07/14/menos-acai-e-castanhas-na-amazonia-mudancas-climaticas-ja-afetam-bioeconomia.ghtml

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