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Grupo J&F apresenta à Aneel plano para assumir a Amazonas Energia

O MME (Ministério de Minas e Energia) afirma que um grupo de trabalho formado pela pasta e pela Aneel já havia concluído há tempos pela insustentabilidade da concessão caso não houvesse nenhuma medida legislativa.

Os irmãos Batista da Âmbar Energia

A Âmbar, empresa do grupo J&F (dos irmãos Joesley e Wesley Batista), apresentou à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) um plano para assumir o controle da Amazonas Energia.

A MP, assinada em 12 de junho, permitiu transferir para o conjunto dos consumidores brasileiros o preço que a Amazonas paga pela energia gerada por termelétricas locais. Essas usinas, por sua vez, foram compradas pela Âmbar em uma operação de R$ 4,7 bilhões há pouco mais de um mês —em 9 de junho, dias antes da medida.

A MP deu outras flexibilizações à Amazonas Energia. Além disso, entidades que representam consumidores afirmam que o texto permite transferir a todo o Brasil perdas com o alto furto de energia observado no estado —dando à empresa o direito de obter um duplo ganho caso diminua ou elimine o problema dos roubos.

De acordo com representantes do setor, a MP era esperada para resolver o problema da distribuidora local e evitar um colapso no fornecimento de energia no estado. Mas, ao mesmo tempo, o formato da medida foi criticado por permitir a transferência de custos aos consumidores do Sistema Interligado Nacional.

A MP tem duas partes. Além da seção voltada à Amazonas Energia, outra abre caminho para a conversão dos contratos de termelétricas para os chamados contratos de energia de reserva –bancados por todos os consumidores do país.

Até então, a Amazonas era responsável por pagar a energia fornecida pelas térmicas, sendo em grande parte ressarcida por meio da CCC (Conta de Consumo de Combustível, um dos componentes da conta de subsídios pagos pelos consumidores).

Mesmo que na prática já seja responsável pela menor parte dos pagamentos, a Amazonas Energia tinha antes da MP uma série de dificuldades para cumprir as obrigações e ainda carrega uma série de pendências com as termelétricas da região. Só no quarto trimestre de 2023, por exemplo, a Eletrobras –vendedora das usinas– registrou provisão de R$ 328,7 milhões referentes à inadimplência da distribuidora.

O MME (Ministério de Minas e Energia) afirma que um grupo de trabalho formado pela pasta e pela Aneel já havia concluído há tempos pela insustentabilidade da concessão caso não houvesse nenhuma medida legislativa. De acordo com a pasta, na época já se sinalizava que as medidas “eram necessárias para qualquer cenário (caducidade, intervenção ou troca de controle)”.

“Com a MP, será possível dar continuidade na flexibilização de parâmetros regulatórios para a concessão, além de retirar contratos de termelétricas compulsoriamente atribuídos ao portfólio da Amazonas Energia”, afirmou a pasta a respeito no mês passado. De acordo com o ministério, a medida “não vai onerar o consumidor final”.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou no mês passado no Congresso que a MP não vai aumentar a conta de luz, e que ela ter sido publicada logo após o grupo J&F investir R$ 4,7 bilhões em usinas do estado foi uma mera coincidência.

“Existe toda uma construção da medida, que foi feita há mais de um ano […]. A Aneel notificou o ministério, disse que a concessionária [Amazonas] colapsaria, foi feito um grupo de trabalho, o grupo de trabalho definiu quais eram as medidas a serem tomadas”, completou o ministro.

Ele afirmou que diferentes grupos nacionais de grande porte haviam iniciado uma análise detalhada dos números dos ativos para uma possível oferta (processo chamado de due dilligence). Ele citou como exemplo de potenciais compradores a Equatorial, a Aegea e o banco BTG.

A Âmbar, em nota, afirmou que a submissão à Aneel do plano de transferência de controle é condição regulatória para qualquer interessado, mas não obriga a efetivação do negócio.

“Depois de concluir a assinatura da aquisição das usinas com a Eletrobras, em um negócio independente e sem participação estatal, a Âmbar agora analisa em maior profundidade a complexa situação da Amazonas Energia e aguarda a análise do plano pela Aneel para avaliar se as condições finais da transferência de controle garantirão ou não a viabilidade econômica da distribuidora”, afirma a empresa do grupo J&F.

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