Lula diz que Brasil vai enviar resposta sobre acordo UE-Mercosul em prazo de duas a três semanas
Presidente disse que Brasil não abre mão das compras governamentais, que disse serem um instrumento de desenvolvimento interno
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje em coletiva em Bruxelas que o Mercosul vai enviar resposta à “side letter” (“carta lateral”) aos europeus em duas a três semanas. O documento enviado pelos europeus aos negociadores do Mercosul exigia compromissos ambientais do para fechar o acordo comercial entre os dois blocos.
— Nós fizemos a resposta brasileira. A resposta brasileira está sendo discutida com os quatro países, e depois, nós vamos, daqui a duas semanas, três semanas, nós vamos entregar definitivamente a proposta para a União Europeia — disse Lula.
O presidente também abordou os dois temas mais controversos da negociação sobre o acordo atualmente: a revisão do texto sobre compras governamentais, exigência do Mercosul, e um novo compromisso ambiental, demanda dos europeus.
Lula disse que o Brasil não abre mão das compras governamentais, que disse serem um instrumento de desenvolvimento interno.
— Os Estados Unidos fazem isso, a Europa faz isso, a Alemanha faz isso, e o Brasil tem direito de fazer isso — disse o presidente, argumentando que, com as compras governamentais centralizadas no estado, seria possível desenvolver a indústria da saúde no Brasil.
Segundo o presidente, “a gente tem que aproveitar um programa dessa magnitude [do SUS], o potencial de compra que tem o SUS para que a gente possa desenvolver internamente no Brasil uma indústria da saúde”.
Lula também disse que a carta da União Europeia sobre meio ambiente impunha ameaças e que o Brasil não negociaria nestes termos.
— A Europa tinha feito uma carta agressiva, que ameaça com punição se a gente não cumprisse determinados requisitos ambientais. A gente disse pra União Europeia que dois parceiros estratégicos não discutem com ameaças — disse o presidente.
Lula disse ainda que “a riqueza da negociação é que alguém tem que ceder” e defendeu a proteção de mercados internos.
— A França é muito ciosa da produção do seus produtos agrícolas, da sua pequena e média agricultura, do seu frango, da sua verdura, do seu queijo, do seu leite, do seu vinho. Da mesma forma que a França tem essa primazia de defender a unhas e dentes o seu patrimônio produtivo, o Brasil tem que defender o nosso.
Lula argumentou que, se as compras governamentais são importantes para os europeus, devem ser também para os membros do Mercosul.
— A compra governamental é um instrumento de política industrial soberana de cada país. Isso vale para os Estados Unidos, isso vale para a China, isso vale para a Alemanha, isso vale para a França, e isso vale para a Bélgica. Esse é um instrumento importante de que nenhum país pode abrir mão. Por que um país que tem o tamanho do Brasil, as possibilidades do Brasil, vai abrir mão? Para matar as nossas pequenas e médias empresas — afirmou.