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ENCONTRO HISTÓRICO: TRUMP E LULA AVANÇAM EM NEGOCIAÇÕES PARA REVERTER TARIFAÇO NA MALÁSIA

Presidentes se reuniram neste domingo em Kuala Lumpur e sinalizaram acordo comercial “rápido” após meses de tensão diplomática

KUALA LUMPUR, MALÁSIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizaram neste domingo (26/10) um encontro decisivo em Kuala Lumpur, na Malásia, que pode marcar o início do fim do tarifaço de 50% imposto pelos americanos aos produtos brasileiros. Durante aproximadamente uma hora de conversas, os líderes das duas maiores democracias do Ocidente demonstraram otimismo sobre um acordo comercial que beneficie ambos os países.

A reunião, realizada às margens da 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), representou uma mudança significativa no tom das relações bilaterais, que vinham deterioradas desde julho, quando Trump impôs as tarifas punitivas em retaliação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.

SINAIS POSITIVOS DE AMBOS OS LADOS

“Acho que seremos capazes de fazer alguns bons acordos para os dois países”, declarou Trump antes do encontro, sinalizando pela primeira vez disposição para revisar o tarifaço. O presidente americano, que estava acompanhado do secretário de Estado Marco Rubio, do secretário do Tesouro Scott Bessent e do representante comercial Jamieson Greer, afirmou que as equipes técnicas poderiam chegar a uma “conclusão muito rapidamente”.

Lula, por sua vez, classificou a reunião como “ótima” e destacou o caráter “franco e construtivo” das discussões. “Acertamos que nossas equipes vão se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as sanções contra autoridades brasileiras”, publicou o presidente brasileiro em suas redes sociais após o encontro.

O chanceler brasileiro Mauro Vieira, que participou da reunião ao lado do embaixador Audo Faleiro e do secretário-executivo do MDIC Márcio Elias Rosa, revelou que Trump demonstrou “admiração pelo perfil da carreira política do presidente Lula”, mencionando sua trajetória de superação após ser “perseguido no Brasil, provado sua inocência e vitoriosamente conquistado o terceiro mandato”.

ARGUMENTOS ECONÔMICOS DO BRASIL

Durante a reunião, Lula apresentou dados concretos para fundamentar o pedido de suspensão das tarifas. O presidente brasileiro enfatizou que os Estados Unidos mantêm um superávit comercial de US$ 200 milhões com o Brasil, contrariando a justificativa americana de déficit comercial. O volume de comércio entre os dois países alcança cerca de US$ 80 bilhões anuais, com vantagem para os americanos na balança de bens e serviços.

O secretário-executivo do MDIC, Márcio Rosa, reforçou esse argumento: “O diálogo foi franco, o presidente Lula deixou claro que a motivação utilizada pelos Estados Unidos para impor a elevação de tarifas para o restante do mundo não se aplica ao Brasil por conta do superávit da balança comercial para os Estados Unidos”.

IMPACTOS E PRÓXIMOS PASSOS

As tarifas de 50%, em vigor desde 1º de agosto, afetam exportações brasileiras cruciais como café, carne, soja e aço, com impacto estimado em US$ 15 bilhões anuais. O setor de agronegócios, que exportou US$ 30 bilhões para os EUA em 2024, pressiona por uma solução rápida. Além disso, investimentos americanos em energia renovável no Brasil, que totalizam US$ 5 bilhões em projetos iniciais, poderiam se beneficiar de um ambiente comercial mais favorável.

As negociações técnicas devem prosseguir ainda neste domingo em Kuala Lumpur, com os ministros brasileiros encontrando suas contrapartes americanas. Do lado brasileiro, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem sido o principal interlocutor com Washington, expressou otimismo sobre os avanços, citando que alguns produtos já tiveram tarifas reduzidas de 50% para 10% ou 25% após conversas anteriores, representando alívio para US$ 370 milhões em exportações.

BOLSONARO: O ELEFANTE NA SALA

Apesar do tom conciliatório, a questão do ex-presidente Jair Bolsonaro permanece sensível. Trump, questionado sobre o assunto, disse apenas sentir-se “muito mal” com a condenação de seu aliado a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe. Quando perguntado se discutiria o tema com Lula, respondeu de forma ríspida a um repórter: “Não é da sua conta”.

A imposição das tarifas em julho foi explicitamente vinculada por Trump ao que ele chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro. Além das tarifas comerciais, os EUA aplicaram a Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, e restringiram vistos de autoridades brasileiras, incluindo ministros do STF.

CONTEXTO REGIONAL E GLOBAL

O encontro ocorre em um momento crucial para ambos os países. Trump, em sua turnê asiática que inclui também Japão e Coreia do Sul, busca fortalecer laços econômicos na região enquanto enfrenta a concorrência chinesa. Para o Brasil, a reunião representa uma oportunidade de normalizar relações com seu segundo maior parceiro comercial, mesmo enquanto diversifica parcerias com China, Índia e o bloco da ASEAN.

Rosa destacou ainda o papel estratégico do Brasil: “O Brasil tem um papel muito importante na América do Sul, por isso também nos colocamos à disposição para colaborar com os Estados Unidos nos outros temas que possam ser pertinentes”.

EXPECTATIVAS DO MERCADO

Analistas econômicos observam com atenção os desdobramentos do encontro. A possível redução das tarifas beneficiaria diretamente indústrias brasileiras que perderam competitividade no mercado americano, especialmente nos setores de aço, alumínio e produtos agrícolas. Empresários que acompanham a delegação brasileira em fóruns empresariais em Jacarta e Kuala Lumpur aguardam sinais concretos de progresso.

Para que um acordo seja alcançado, especialistas apontam que o Brasil provavelmente terá que fazer algumas concessões, como facilitar investimentos americanos em setores estratégicos ou negociar acesso a minerais críticos – tema que Lula sinalizou estar disposto a discutir, desde que em termos “ganha-ganha” e sem limitar o país ao papel de mero exportador de matérias-primas.

CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS

O encontro de Kuala Lumpur marca um ponto de inflexão nas relações Brasil-EUA após meses de tensão. Embora um acordo definitivo ainda não tenha sido fechado, os sinais enviados por ambos os líderes sugerem que a fase mais aguda da crise comercial pode estar chegando ao fim. As próximas semanas serão cruciais para determinar se as promessas de “acordos rápidos” se materializarão em alívio concreto para o comércio bilateral.

Como resumiu o chanceler Mauro Vieira: “A conclusão final é de que a reunião foi muito positiva, e nós esperamos em pouco tempo agora, em algumas semanas, concluir uma negociação bilateral que trate de cada um dos setores da atual tributação americana ao Brasil”. O mundo observa atentamente se as duas maiores economias das Américas conseguirão superar suas diferenças políticas em nome do pragmatismo econômico.

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