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Compromisso político e regulação on-line são cruciais no combate à violência contra crianças, diz ativista e sobrevivente de abuso

Daniela Ligiero integra coalizão internacional que busca chamar a atenção de governos para acabar com a crise em nível mundial. Tema será discutido pela primeira vez em conferência na Colômbia

Mais de 1 bilhão de crianças em todo o mundo — ou uma em cada duas — sofrem algum tipo de violência anualmente, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS), impactando não apenas o presente das vítimas, mas comprometendo também seus futuros em áreas como a educação, saúde e bem-estar. Diante desse cenário alarmante, será realizada em novembro, em Bogotá, Colômbia, uma Conferência Ministerial Global sobre o Fim da Violência Contra Crianças, a primeira em que o tema será discutido com exclusividade em uma reunião de nível internacional.

De olho no evento, o movimento global “Champions for Childhood” (“Campeões pela Infância”), composto por sobreviventes, especialistas e ativistas, uniu-se com o objetivo de mobilizar esforços para chamar a atenção dos governos e exigir ações urgentes e concretas para acabar com o quadro em nível mundial. Nesta terça-feira, o grupo publicou uma carta aberta convocando os líderes globais a priorizarem a proteção infantil em suas agendas e a adotarem compromissos que correspondam à gravidade da crise. No documento, a coalizão também destaca que a violência contra crianças e adolescentes não é um problema isolado, mas cíclico, capaz de deixar cicatrizes físicas e emocionais que podem durar a vida toda e impactar gerações futuras.

A reportagem é de o GLOBO que conversou com Daniela Ligiero, membro do Global Survivor Council e presidente da Together for Girls, parceria global dedicada a acabar com a violência contra crianças, com foco particular na violência sexual. Fundada em 2009, a organização que também integra a coalizão atua em colaboração com instituições internacionais como o Unicef e a OMS, governos, sociedade civil e setor privado.

Ligiero, que sofreu abuso na infância, já atuou como vice-presidente de Estratégia para Meninas e Mulheres na Fundação da ONU no Departamento de Estado dos EUA e foi representante adjunta no escritório do Unicef no Brasil.

Como sua experiência pessoal como sobrevivente de violência na infância influenciou seu trabalho em proteção infantil? O que te motiva a continuar nessa luta?

Eu não gosto de dar muitos detalhes sobre o que aconteceu, mas era uma pessoa próxima à minha família. Eu tinha seis anos. Vim de uma família com recursos, educada, e meus pais sempre conversavam sobre o que fazer quando uma pessoa estranha faz alguma coisa. Sabe aquela visão da van branca que vem e te oferece balinha pra você ir no parque? Mas e a conversa sobre o que você faz quando é uma pessoa de confiança, como um professor, um técnico, um padre, um amigo próximo dos pais ou até mesmo alguém dentro da família, um avô, um tio…? Sabemos que a maior parte dos casos de abuso sexual acontecem com pessoas conhecidas. Eu vivi com medo durante muito tempo e isso me afetou profundamente. Com 15 anos, assisti um filme sobre uma menina que tinha sofrido abuso sexual e tive um momento de clareza: “caraca, foi isso que aconteceu comigo?”. Naquele dia, quando meus pais chegaram, finalmente eu pude falar tudo.

Eu tive muita sorte por ter tido recursos e possibilidades de receber ajuda, terapia, uma série de outras coisas que me levaram a ser a pessoa que sou hoje. Tenho um doutorado em psicologia, sou líder de uma grande organização que trabalha esses temas no mundo todo. Comecei há uns 15 anos, trabalhando na época no Departamento de Estado quando a Hillary Clinton estava lá. Eu a assessorava na estratégia americana de violência contra mulheres e crianças. E ninguém falava sobre sobreviventes. Era como se isso acontecesse só com outras pessoas. Então decidi publicamente falar da minha história, queria que as pessoas soubessem que esse silêncio que existe em volta disso é uma das piores coisas. É importante falar para que os governos e os líderes possam ter uma resposta adequada para o tamanho do problema que é a violência contra crianças e adolescentes, em específico a violência sexual.

A entrevista completa é de O Globo online e pode ser acessada pelo link a seguir

https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/09/17/compromisso-politico-e-regulacao-on-line-sao-cruciais-no-combate-a-violencia-contra-criancas-diz-ativista-e-sobrevivente-de-abuso.ghtml

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