Brasil

Indígenas guarani-kaiowá denunciam abusos sexuais e agressões de pistoleiros em meio a disputa com fazendeiros no MS

Mulheres relatam ter sido amarradas em ao menos dois episódios; grávidas contam que perderam seus bebês

Mulheres guarani-kaiowá denunciaram que sofreram abusos sexuais e agressões de pistoleiros em meio a uma disputa com fazendeiros pela posse na Terra Indígena Iguatemipeguá I, em Iguatemi (MS). Os abusos teriam sido em novembro de 2023 e em setembro de 2016. Uma vítima das agressões de novembro acrescenta que em abril deste ano foi ferida a bala em um novo ataque.

De acordo com os relatos feitos ao GLOBO, a primeira agressão foi feita em um acampamento indígena contra uma mulher que estava grávida de oito meses. Ela contou que estava com a irmã caçula, com 12 anos na época, quando ambas foram surpreendidas por homens mascarados. Ao tentar impedir que a menina fosse estuprada, os pistoleiros bateram em sua barriga com as pontas das armas que usavam, e ela acabou por perder o bebê.

— Não consegui correr porque minha barriga estava muito pesada, e me pegaram — conta.

Em outro depoimento, feito com a ajuda de tradutores da língua kaiowá, uma guarani contou que foi amarrada, torturada e abusada por pistoleiros em novembro.

— Minha perna está machucada até hoje, não consigo mais andar direito. Estávamos em quatro mulheres e um homem (no momento da emboscada), e ficamos todos machucados. Uma perdeu o bebê, de tanta violência. A outra teve hemorragia — afirmou a indígena, apontando a responsabilidade de fazendeiros pelo ataque, mas sem dizer os nomes das propriedades.

A guarani kaiowá acrescentou que no dia 10 de abril, foi baleada por um pistoleiro em sua própria casa, na TI Iguatemipeguá I.

— Eu estava lavando a roupa da criança. Quando fui pendurar veio correndo o pistoleiro. Corri para fugir, mas caí e ele atirou no meu braço. Atiraram em mim com bala normal. Mas atiraram mais de oito balas de borracha na minha casa. Depois a polícia me disse para correr e me esconder, mas onde?

Outra indígena relatou ter sido agredida por capangas de fazendeiros no mesmo ataque em novembro.

— Fiquei escondida embaixo da lama. Foi ali que os pistoleiros me procuraram. Pisaram na minha barriga porque eu me escondi debaixo da lama — afirmou a mulher, acrescentando que fez uma cesárea de risco para ter o bebê, por conta dos ferimentos.

‘Não produziram lesões’

A delegacia da Polícia Federal de Naviraí investiga os casos de novembro. Mas o documento assinado pelo delegado Adenilton Figueiredo do Carmo informa que os abusos sexuais contra as indígenas “não produziram lesões a serem constatadas por meio de atendimento médico”.

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul e a Delegacia da Polícia Civil de Iguatemi informaram que não foram encontrados registros de casos de estupro em novembro de 2023 na região indígena que estaria em disputa com fazendeiros. A delegacia acrescentou que também não há ocorrências relacionadas a estupro ou abuso sexual com mulheres indígenas em setembro de 2016.

Em dezembro, os advogados defensores dos direitos dos indígenas Talitha Camargo e Pedro Lazarini Neto, enviaram uma petição pedindo providências sobre as denúncias à Presidência da República e ministérios que têm atuação junto aos povos originários. Os conflitos entre os guarani kaiowá e fazendeiros da região já se arrastam por décadas.

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