Brasil

Tomado por doações e equipamentos de socorro: a máquina de guerra da Marinha que foi ao RS em missão humanitária

Maior embarcação de combate da América Latina, navio Atlântico atracou neste sábado em Rio Grande levando água, alimentos, equipamentos e militares que atuarão em socorro aos atingidos pelas

Escotilhas, corredores estreitos e escadas íngremes levam ao hangar de aeronaves do Navio Aeródromo Multipropósito Atlântico (NAM), principal equipamento da Marinha do Brasil, que atracou na tarde deste sábado (11) no Estaleiro Rio Grande, contíguo ao porto da cidade, levando contingente militar, veículos, embarcações de menor porte, combustíveis, geradores e donativos para auxiliar os gaúchos afligidos pela catástrofe climática.

O hangar de aeronaves, adornado por imensa bandeira brasileira, deu lugar a caminhões de carga, botes e viaturas de grande porte capazes de superar regiões alagadas e barrentas. E havia, naquele navio de guerra, o maior da América Latina, grande quantidade de donativos. Um brutamontes de aço, com 208 metros de comprimento, que chegou em missão humanitária.

O hangar e também o convés de viaturas comportavam água mineral em abundância, item essencial para a vida que escasseou após as trágicas enchentes no Rio Grande do Sul. Havia cargas de feijão, arroz, biscoito, massa, colchões, cobertores, ração animal, papel higiênico, fraldas e detergente, entre outros itens.

Jovens militares formaram um longo corredor humano para transportar as doações do navio até caminhões. Embora eles fizessem o trabalho com agilidade, passando sacos de produtos de mão em mão, o navio se mantinha com grande quantidade de remessas humanitárias no interior, indicando carga solidária volumosa.

Agora, por terra e com orientação da Defesa Civil, a distribuição dos itens deverá alcançar cidades afetadas em todas as regiões do Estado. A Marinha informou que os donativos foram enviados pelos próprios militares e seus familiares, empresas, organizações da sociedade civil e cidadãos anônimos que se mobilizaram.

No interior do Atlântico, o teto é tomado por tubulações de passagem de ar, óleo e água. Nas duas extremidades do hangar de aeronaves, duas plataformas de grande porte funcionam como elevadores para helicópteros e pequenos aviões. É por essa estrutura que eles emergem do hangar à superfície do navio, de onde alçam voo. Em alguns corredores, iluminação em cor verde para não ofuscar os marinheiros que operam com óculos de visibilidade noturna.

O Atlântico zarpou na quarta-feira (8) da Base Naval da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Ele chegou a Rio Grande neste sábado acompanhado pela Fragata Defensora, outra importante embarcação militar brasileira. Juntas, elas trouxeram 1.350 militares, 154 toneladas de doações, 38 viaturas, 24 embarcações de pequeno e médio porte e duas estações móveis de tratamento de água.

— Temos militares com capacitações diferentes. O Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, em apoio à Defesa Civil, tem capacidade para tomar ações de resgate, de distribuição de itens críticos de abastecimento e de reconstrução da infraestrutura básica de áreas acometidas. Temos aeronaves e elas podem não só identificar pessoas ainda ilhadas e mapear áreas com maiores necessidades, mas também serem empregadas para a distribuição de itens — afirmou o contra-almirante Nelson Leite, comandante do grupo-tarefa que navegou o Atlântico e Fragata Defensora.

As embarcações deverão permanecer em Rio Grande. Sobretudo no caso do Atlântico, o calado do Guaíba, em Porto Alegre, não tem profundidade para suportar um navio daquele tamanho. Não há prazo determinado para retorno ao Rio de Janeiro.

— Enquanto tiver demanda, a Marinha estará presente — disse Leite.

Em momento delicado e de fragilidade de um povo, o comandante avaliou o espírito da tripulação que chegou ao Estado.

— Estamos irmanados pela mesma motivação de trazer alento aos gaúchos. No Rio de Janeiro, de onde estamos vindo, foi uma mobilização enorme em relação a doações e contribuições. Vejo isso em cada militar. Passamos os três dias de navegação organizando o que recebemos de forma acelerada. Foi um trabalho hercúleo — afirmou o contra-almirante.

Oito navios

A Marinha mobilizou oito navios da sua frota para auxiliar o serviço de socorro ao Rio Grande do Sul. Quatro deles foram do Rio de Janeiro.

O primeiro reforço de fora do Estado foi o navio Amazonas, que chegou na sexta-feira (10) em Rio Grande. Essa embarcação, após descarregar o material trazido, regressou ao Rio de Janeiro na manhã deste sábado, informou a Marinha. Neste mesmo dia, chegaram o Atlântico e a Fragata Defensora. Para a próxima terça-feira (14), fechando os reforços, está prevista a chegada em Rio Grande do navio de socorro submarino Guillobel.

Também estão operando quatro embarcações locais, integrantes do 5º Distrito Naval, que engloba Rio Grande do Sul e Santa Catarina e cuja sede fica em Rio Grande: Mearim (apoio oceânico), Babitonga (patrulha), Benevente (patrulha) e Comandante Varella (hidrográfico balizador).

A respeito de críticas que surgiram no debate público sobre a possibilidade de o Atlântico ter atracado mais cedo, o comandante Leite destacou o tempo necessário para a mobilização de doações e afirmou que a Marinha está envolvida com o socorro ao Rio Grande do Sul desde 30 de abril. O balanço geral da força aponta, até o momento, além dos navios, a mobilização de 11 helicópteros e cerca de 50 embarcações de menor porte, 70 viaturas e 2 mil militares. A instituição comunicou ter realizado 1,5 mil resgates.

Um hospital de campanha da Marinha está instalado desde 9 de maio na cidade de Guaíba, na Avenida Nestor de Moura Jardim, número 417. É oferecido atendimento médico diário, das 8h às 17h.

Com informações liberadas pelo Jornal Zero Hora de Porto Alegre

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