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RS chega a 100 mortes em meio a falta de água e comida e temor de novas tempestades

Resgate de vítimas teve que ser paralisado devido à volta da chuva, que deve se intensificar nos próximos dias; nível do Guaíba recuou

No mesmo dia em que o nível do lago Guaíba baixou para o menor patamar dos últimos dias, o Rio Grande do Sul chegou nesta quarta (8) à marca de 100 pessoas mortas em decorrência das chuvas que atingem o estado.

A data foi marcada também pelo temor de novas tempestades nos próximos dias e de uma onda de frio, prevista para começar já nesta quinta (9). Em meio ao caos causado pelas inundações, o desabastecimento segue cada vez mais presente na rotina dos moradores das áreas afetadas, com relatos de falta de comida e de água se multiplicando tanto no interior quanto na região de Porto Alegre.

Vizinha da capital, Canoas é um dos locais nos quais a população já não tem comida suficiente. Com metade de seu território tomado pela água, o município tem filas com até mil pessoas em busca de mantimentos que estão sendo distribuídos pela prefeitura —mas não há o suficiente para todos.

“Temos, agora, cerca de 600 pessoas esperando e comida para apenas 100. Precisamos de muitas doações”, disse o prefeito Jairo Jorge (PSD).

A espera leva pessoas a ficarem mais de três horas na fila, disse ele.

Moradores da capital gaúcha também encontram dificuldade para conseguir suprimentos básicos. Mercados de diferentes bairros da cidade têm prateleiras vazias e falta generalizada de álcool em gel e de alimentos como pão e ovo.

O maior problema, porém, é a falta de água, cada vez mais rara na cidade. Nos locais onde ainda é possível achá-la, logo se formam grandes filas.

Na unidade do Zaffari do shopping Bourbon Ipiranga, no bairro Jardim Botânico, uma linha formada por mais de 60 carrinhos fazia a volta no corredor central. Todos à espera de sua chance de comprar um pouco de água. Devido à escassez do produto, a venda de garrafas e galões está limitada por cliente, com funcionários do local organizando a distribuição.

Já no Gesepel, no bairro do Bom Fim, até mesmo prateleiras de refrigerantes estão com espaço de sobra. Quem chega no corredor de bebidas não disfarça a frustração ao ver a falta de produtos. Há quem leve bebidas de limão por “parecer mais com água”.

A falta de suprimentos tem feito grande parte da população fugir em direção ao litoral do estado ou para a vizinha Santa Catarina, regiões que não foram afetadas pelas chuvas que atingiram a maior parte do Rio Grande do Sul.

O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), pediu que os moradores que conseguirem deixem a cidade. A saída em massa provocou alta procura em postos de combustíveis e congestionamento de estradas, embora o fluxo tenha diminuído nesta quarta.

A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) afirma que a situação não é de desabastecimento. Segundo a entidade, a alta demanda e a dificuldade logística de repor os produtos em meio ao caos causaram as prateleiras vazias. A normalização da situação, porém, depende de a água do Guaíba continuar a baixar —a expectativa, porém, é que aconteça exatamente o oposto nos próximos dias.

Nesta quarta, o lago baixou 24 centímetros em relação à noite de terça e chegou a 5,04 metros. No sábado, a altura era de 5,30, segundo informações do Ceic (Centro Integrado de Coordenação de Serviços).

De acordo com o centro, o lago segue acima do limite, uma vez que é considerado inundado quando atinge 3 metros de altura.

O problema é que a previsão indica que a cidade vai ser atingida por novas tempestades a partir desta sexta (10). Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), do dia 27 de abril até 16h desta quarta, choveu na estação meteorológica do Jardim Botânico, em Porto Alegre, o acumulado de 388 mm. A estimativa agora é que de sexta até a próxima segunda-feira (13), chova até 330 mm na capital gaúcha. Com isso, o Guaíba deve se manter no patamar atual, ou até voltar a subir.

Na tarde desta quarta, uma chuva leve em Porto Alegre, acompanhada de rajadas de vento, já levou a prefeitura a suspender o resgate das vítimas.

Agora, a Defesa Civil se prepara para a nova chuva, que vai castigar exatamente as regiões mais prejudicadas do estado.

A previsão indica que, nesse período, a chuva com maior intensidade será entre o centro-norte e leste gaúcho, incluindo o litoral norte do estado e o sul de Santa Catarina.

Segundo Stéfano Boeira, hidrólogo da Sala de Situação da Sema (Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura) do Rio Grande do Sul, os volumes esperados desta vez devem elevar os níveis dos rios nos vales, mas menos do que na recente inundação. A Grande Porto Alegre, porém, deve continuar embaixo d’água por mais alguns dias.

“Com esses volumes, deve ter a manutenção dos níveis em inundação na região metropolitana. Aí o lago Guaíba não vai ter um declínio tão rápido dos níveis. A expectativa é que se mantenha acima dos 4 metros com esses novos volumes precipitados, sendo que a cota de inundação do cais Mauá é de 3 m”, destaca Boeira. “E se mantiver esses valores elevados de nível, dependendo de como será a direção dos ventos, a inundação vai perdurar por mais 10 a 15 dias.”

Nesta quinta-feira (9), o Inmet já prevê tempo frio e seco no sul do Rio Grande do Sul, com temperaturas mínimas variando de 4°C a 8°C. Nas demais regiões do estado, haverá maior nebulosidade e um pouco de frio na madrugada. As temperaturas mínimas podem variar de 10°C a 15°C na metade norte do estado. Pela manhã, a capital, Porto Alegre, pode registrar 13°C.

Matéria original da Folha e pode ser acessada pelo link a seguir

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/05/rs-chega-a-100-mortes-em-meio-a-falta-de-agua-e-comida-e-temor-de-novas-tempestades.shtml

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