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Salgueiro homenageia ianomâmis e faz alerta sobre defesa da Amazônia

No refrão, os salgueirenses entoarão a expressão “Ya temi xoa, aê, êa!”, que pode ser traduzido como “eu ainda estou vivo”, na língua Yanomae

A escola de samba Salgueiro fará homenagem ao povo ianomâmi neste carnaval, com o enredo “Hutukara”, que significa “a parte do céu do qual nasceu a terra”. A grande festa também ressaltará a preservação da Amazônia e luta contra o garimpo ilegal. No refrão, os salgueirenses entoarão a expressão “Ya temi xoa, aê, êa!”, que pode ser traduzido como “eu ainda estou vivo”, na língua Yanomae. O desfile da agremiação será no domingo (11/2), no Sambódromo Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.

Ao todo, 14 lideranças da Terra Indígena Yanomami vão subir no carro principal de uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro. “Queremos sua ajuda. Queremos que você defenda nosso planeta Terra, nossa saúde, nossa língua, nosso xamã, nossa sabedoria, nossa música, nossa alegria. É por isso que vocês estão escolhendo uma música muito importante para todos ouvirem”, afirmou Davi Kopenawa, xamã e líder espiritual do povo ianomâmi.

A Salgueiro ressalta que há mais de mil anos os ianomâmis vivem na maior Terra Indígena (TI) do país, em um território ao norte do Brasil e sul da Venezuela, localizado nos estados do Amazonas e Roraima, nas bacias do Rio Negro e do Rio Branco.

“Quinhentos anos antes dessas duas nações existirem, eles já estavam lá. Viver na floresta é um ofício que requer uma sabedoria ancestral, não fabricada em laboratório, nem encontrada nas páginas dos livros do ‘povo da mercadoria’. Viver na floresta como ianomâmi é ser parte dela. É conviver com seres humanos e não humanos, animais, plantas, vento, chuva e milhares de espíritos”, frisa a escola de samba.

No desfile, o artista Joseca Yanomami será homenageado, com fantasia inspirada na obra dele: a exposição Árvores. “Joseca foi o primeiro estudioso de línguas e professor da comunidade Watorik. Desde 2014, ele também ilustra vários livros sobre as tradições de seu povo publicados pela Hutukara Associação Yanomami. Em seus desenhos, Joseca Yanomami expõe meticulosamente entidades, lugares e eventos evocados pelos mitos e cantos xamânicos que ouviu desde a infância, mas também por cenas da vida cotidiana na floresta”, explica a Salgueiro.

O enredo “Hutukara” foi idealizado pelo carnavalesco Edson Pereira junto ao enredista Igor Ricardo, e teve inspiração no livro A Queda do Céu, de Davi Kopenawa. Hutukara também é o nome da maior associação ianomâmi do Brasil, criada em 2004.

No enredo, a Salgueiro entoa algumas palavras ianomâmis, como Omama e Xapiri. Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), Omama é considerado o arquiteto das regras sociais e da cultura ianomâmi, e também deu vida aos “xapiri pë”, que são espíritos auxiliares dos xamãs. O filho de Omama foi o primeiro xamã (líder espiritual). Os xamãs, por sua vez, desenvolvem sessões com o pó “yãkõana”, que corresponde a “comida dos espíritos”.

Apoio internacional

A Salgueiro firmou parceria com a organização fundada pelo ator Leonardo DiCaprio, a Re:wild, em apoio ao manifesto em prol dos povos originários da Amazônia e a preservação da maior floresta tropical do mundo.

“A parceria o Salgueiro e a prestigiada ONG Re:wild no Carnaval 2024 representa um marco significativo na convergência entre cultura e conservação ambiental. Em um momento em que a Amazônia enfrenta desafios urgentes, incluindo a degradação ambiental e as violações dos direitos dos povos indígenas, essa colaboração se destaca como um esforço conjunto para sensibilizar e mobilizar recursos em defesa da floresta e de suas comunidades”, ressalta a agremiação.

A organização Re:wild destacou que o povo Yanomami vem sofrendo “violência brutal” de garimpeiros e  financiadores da atividade ilegal. “A mineração ilegal contaminou as águas e levou a uma crise humanitária de desnutrição, malária, pneumonia e outras doenças que aumentaram as taxas de mortalidade infantil”, disse a ONG.

Veja a letra do enredo:

“É Hutukara! O chão de Omama

O breu e a chama, Deus da criação

Xamã no transe de yakoana

Evoca Xapiri, a missão…

Hutukara, ê! Sonho e insônia

Grita a Amazônia, antes que desabe

Caço de tacape, danço o ritual

Tenho o sangue que semeia a nação original

Eu aprendi português, a língua do opressor

Pra te provar que meu penar também é sua dor

Falar de amor enquanto a mata chora, (bis)

É luta sem Flecha, da boca pra fora!

Tirania na bateia, militando por quinhão,

E teu povo na plateia, vendo a própria extinção

“Yoasi” que se julga: “família de bem”, (bis)

Ouça agora a verdade que não lhe convém:

Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril,

Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome,

Quando o medo me partiu

Você quer me ouvir cantar em Yanomami pra postar no seu perfil

Entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau Brasil!

Antes da sua bandeira, meu vermelho deu o tom

Somos parte de quem parte, feito Bruno e Dom

Kopenawas pela terra, nessa guerra sem um cesso,

Não queremos sua “ordem”, nem o seu “progresso”

Napê, nossa luta é sobreviver!

Napê, não vamos nos render!

YA TEMI XOA! aê, êa! (bis)

Meu Salgueiro é a flecha

Pelo povo da floresta

Pois a chance que nos resta

É um Brasil cocar!”

Matéria original do Correio Braziliense

https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2024/02/amp/6800945-salgueiro-homenageia-ianomamis-e-faz-alerta-sobre-defesa-da-amazonia.html

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