Política

Republicanos insiste em Portos e Aeroportos e provoca troca de cadeiras em ministérios de Lula

Para abrigar Centrão, Planalto indica que Márcio França pode assumir Ciência e Tecnologia e atual titular, Luciana Santos, fica com pasta das Mulheres na vaga de Cida Gonçalves

As trocas devem atingir ao menos três ministérios. A principal mudança atinge a pasta dos Portos e Aeroportos, cobiçada pelo Republicanos, obrigando o Planalto a deslocar o ministro Márcio França de função – Foto:Conteúdo Estadão

No arranjo político para selar o apoio do Centrão e garantir a aprovação de projetos no Congresso, o governo do Luiz Inácio Lula da Silva prevê uma mini reforma ministerial que contempla uma dança de cadeiras na Esplanada. As trocas devem atingir ao menos três ministérios. A principal mudança atinge a pasta dos Portos e Aeroportos, cobiçada pelo Republicanos, obrigando o Planalto a deslocar o ministro Márcio França de função.

No cenário mais provável, desenhado após encontro fora da agenda entre Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), França deixa o posto para entregar o ministério ao deputado do Republicanos Silvio Costa Filho (PE). O anúncio pode ocorrer nesta sexta-feira, 18.

Essa troca atende ao pedido do Republicanos, do deputado Marcos Pereira, por causa do Porto de Santos, área de interesse do governador Tarcísio de Freitas, do mesmo partido. O nome indicado pela sigla para comandar o ministério é o do deputado Silvio Costa Filho (PE).

Já o PP, sigla de Lira, comandaria outra pasta. O escolhido é o deputado André Fufuca (AM). Lula já concordou com os nomes. Como mostrou o Estadão/Broadcast, a proposta do Centrão entregue ao presidente envolve a ida de Márcio França (PSB) para a pasta de Ciência e Tecnologia, hoje ocupada por Luciana Santos (PCdoB). Ela seria realocada no ministério das Mulheres, hoje comandado por Cida Gonçalves, filiada ao PT.

O PP voltou a insistir na indicação de Fufuca ao comando do Ministério do Desenvolvimento Social, no lugar do petista Wellington Dias, mas sem o Bolsa Família. Nos bastidores, lideranças reforçam que o partido merece um espaço relevante no primeiro escalão, com elevado capital político.

No entanto, Lula resiste em entregar a pasta ao grupo parlamentar e quer mantê-la com o PT. Por isso, fontes relataram à reportagem que, num primeiro momento, o Desenvolvimento Social pode ser poupado na atual troca de cadeiras na Esplanada.

A reforma ministerial é vista como passo fundamental para que Lira destrave a pauta de votação na Câmara, especialmente o arcabouço fiscal. Desde a retomada dos trabalhos na Casa após o recesso informal, os deputados têm apreciado apenas matérias de consenso e evitado discussões relevantes para o governo.

Nesta quinta-feira, 17, após reunião com Lula, Dias publicou uma foto com o presidente nas redes sociais e divulgou um vídeo em que diz que Lula o recomendou trabalhar “ainda mais”. De acordo com a assessoria do ministro, esteve na pauta o debate sobre projetos sociais e o plano “Brasil Sem Fome”.

A avaliação de lideranças é de que a demora do governo em definir os espaços do PP e do Republicanos em ministérios elevou a insatisfação dos parlamentares. A recente declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o “poder muito grande” da Câmara também agravou o clima de atrito. A sequência de episódios e o “teste de paciência” contribuíram para elevar a fatura cobrada pelos líderes do Centrão.

Além disso, uma romaria de prefeitos a gabinetes de deputados nesta semana reacendeu a insatisfação com a demora na liberação de emendas para as bases eleitorais. Também há uma avaliação de que o governo precisa retribuir o apoio que conseguiu na Câmara para aprovação, por exemplo, do projeto que retoma o voto de desempate a favor da Receita no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O próprio Lira é cobrado pelos parlamentares.

Deputados também dizem esperar retribuição pelo esvaziamento da CPI do MST. Partidos como Republicanos e União Brasil trocaram membros radicais no colegiado por integrantes mais governistas, e Lira anulou a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Nos últimos dias, em meio à tensão, Lira inclusive disse que poderia pautar o projeto de lei que prorroga a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia até 2027, na contramão do que defende a Fazenda. O presidente da Câmara também esticou a corda ao se opor à medida provisória que taxa os rendimentos no exterior – as chamadas offshores –, proposta fundamental para a equipe econômica conseguir elevar arrecadação e cumprir a meta primária de zerar o déficit fiscal em 2024.

LEGENDA – O ministro Márcio França deve sair do comando de Portos e Aeroportos; pasta vai para o Centrão Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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