PAC de Educandos: três anos de abandono após incêndio criminoso; moradores da Zona Sul sem atendimento
Unidade que atendia 300 pessoas por dia foi fechada em 2021 e nunca foi reaberta, virando ponto de uso de drogas

Há mais de três anos, moradores da Zona Sul de Manaus enfrentam dificuldades para acessar serviços básicos de cidadania após o fechamento do Pronto Atendimento ao Cidadão (PAC) de Educandos. O que deveria ser uma suspensão temporária transformou-se em abandono permanente, deixando milhares de pessoas desassistidas.
O incêndio que paralisou os serviços
Na madrugada de 6 de junho de 2021, três criminosos invadiram as instalações do PAC localizado na Avenida Lourenço da Silva Braga, no bairro Educandos. Eles atearam fogo em parte do prédio, quebraram uma das portas de vidro e danificaram a parte elétrica. Um balde com óleo e gasolina usado no crime foi deixado no local.
Na ocasião, havia apenas um agente de segurança no prédio, que felizmente não ficou ferido. A Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc) registrou boletim de ocorrência e anunciou o fechamento temporário da unidade a partir de 7 de junho de 2021, prometendo reforma completa das instalações.
Promessa não cumprida
O governo estadual garantiu à época que o local passaria por uma reforma para “receber a população com todo o conforto necessário”. A secretária executiva de Cidadania da Sejusc, à época,France Mendes, chegou a afirmar que “o Governo do Amazonas teria um compromisso com a população” e que ninguém seria lesado pela situação.
No entanto, mais de três anos depois, a reforma nunca aconteceu. O prédio que um dia foi referência em atendimento ao cidadão está hoje praticamente destruído, segundo vídeos que circulam nas redes sociais. O local se transformou em ponto de consumo de drogas e moradia de dependentes químicos, tornando-se símbolo do descaso com o dinheiro público.
Serviços essenciais concentrados em uma única unidade
Com o fechamento do PAC de Educandos, todos os atendimentos foram direcionados para o PAC Galeria dos Remédios, localizado no Centro de Manaus. A unidade fechada oferecia diversos serviços essenciais à população, incluindo:
– Emissão de primeira e segunda via de identidade (Polícia Civil)
– Atendimento do Detran-AM
– Serviços do Bradesco
– Emissão de carteira de trabalho e seguro-desemprego (Setrab)
– Atendimento da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz)
Antes do fechamento, o PAC de Educandos atendia cerca de 300 pessoas diariamente. A unidade havia sido inaugurada em janeiro de 2006 justamente para descongestionar o atendimento no centro da cidade e facilitar o acesso da população da Zona Sul aos serviços públicos.
Impacto na população vai além da Zona Sul
O fechamento do PAC afetou não apenas os moradores do bairro Educandos e da Zona Sul, mas também pessoas de diversas outras regiões de Manaus e até do interior do estado. A localização estratégica da unidade, próxima a pontos de desembarque como as feiras da Panair, Ceasa e o Centro da cidade, tornava o atendimento acessível para um público muito mais amplo.
Moradores que antes resolviam seus problemas de documentação em poucos minutos agora precisam se deslocar até o Centro, enfrentar filas maiores e gastar mais com transporte. Para trabalhadores informais, idosos e pessoas de baixa renda, essa mudança representa um obstáculo significativo no acesso à cidadania.
Histórico de vandalismo e descaso
O incêndio de 2021 não foi o primeiro problema enfrentado pelo PAC de Educandos. Desde 2019, a unidade já sofria com vandalismos constantes. Criminosos furtavam cabos elétricos, lâmpadas e outros equipamentos para vender e financiar o consumo de drogas.
A falta de segurança adequada fez com que várias instituições abandonassem gradualmente o local. Em fevereiro de 2019, os serviços já haviam sido suspensos temporariamente após uma tentativa de furto dos cabos de fibra ótica que afetou o sistema online.
Comunitários chegaram a protestar e alertar as autoridades sobre o risco de fechamento definitivo, mas pouco foi feito para reverter a situação. O morador Gil Eanes declarou na época que “acabar com o PAC é a negação da cidadania”, enquanto Carlos Catatau afirmou que a possível saída do local seria “uma perda muito grande que acabaria com a autoestima da Zona Sul”.
População aguarda solução
Até o momento, não há previsão de reabertura do PAC de Educandos. A população da Zona Sul continua dependendo exclusivamente da unidade da Galeria dos Remédios para ter acesso aos serviços básicos de cidadania, enfrentando maiores dificuldades de deslocamento e tempos de espera mais longos.
O caso do PAC de Educandos ilustra um problema recorrente na gestão pública: equipamentos importantes são abandonados após incidentes, promessas de recuperação não são cumpridas, e a população mais vulnerável é a que mais sofre com o descaso.
