Relator da CPI do Crime Organizado promete investigar lavagem de dinheiro e critica ministro Lewandowski
Senador Alessandro Vieira questiona operação no Rio com 121 mortos e diz que ministro da Justiça “não entende nada” de segurança pública

O senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor do requerimento da CPI do Crime Organizado e cotado para ser relator, anunciou que o colegiado investigará tanto o “crime de colarinho branco” quanto o “crime de rua”, com foco especial nas estruturas de lavagem de dinheiro de facções e milícias.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Gobo, o parlamentar, que é policial de carreira, fez duras críticas ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmando que ele “não tem expertise” e “não entende nada de segurança”. Vieira também questionou a megaoperação realizada no Rio de Janeiro que resultou em 121 mortes na última terça-feira.
Operação no Rio sob questionamento
Sobre a ação policial com elevado número de vítimas, o senador contestou a avaliação do governador Cláudio Castro (PL), que classificou a operação como bem-sucedida. “Sou policial e não consigo olhar para uma operação que tem quatro colegas mortos e 15 feridos e dizer que foi um sucesso”, declarou Vieira.
O parlamentar cobrou explicações sobre os reais objetivos da operação: “Se era o cumprimento de mandados de prisão, não foi um sucesso. Se era a retomada do espaço, não houve esclarecimento. Quais eram os objetivos dessa operação e qual é o próximo passo?”
Estratégia da CPI
A comissão pretende iniciar os trabalhos ouvindo especialistas e técnicos envolvidos nas investigações, antes de convocar autoridades políticas. “Começaremos pelos técnicos, depois vamos para a área política. É necessário ouvi-los para não cairmos no joguete de narrativas políticas”, explicou o senador.
Entre os nomes que devem ser convocados estão o governador Cláudio Castro, secretários de Segurança e comandantes das forças policiais. A CPI também investigará a infiltração do crime organizado em todas as esferas do Estado, incluindo instituições de segurança pública e a política.
Críticas ao governo federal
Vieira foi enfático ao avaliar a política de segurança do governo Lula: “O governo não tem nenhum projeto para a segurança pública, não tem planejamento. A PEC da Segurança não tem conteúdo que vá gerar resultados”.
Sobre Lewandowski, o senador sugeriu mudanças na equipe ministerial: “O ministro precisa rever a sua equipe. Está na hora de sair das ações de gabinete e ouvir as forças policiais e comunidades afetadas pela violência”.
Foco no “andar de cima”
Alinhado com declarações recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a necessidade de combater o “andar de cima” do crime organizado, Vieira confirmou que a CPI priorizará os mecanismos de lavagem de dinheiro.
“Um dos pontos em que vamos mirar é identificar os mecanismos de lavagem de dinheiro, entendendo o fenômeno do crime organizado. Temos que enfrentar o colarinho branco, o crime de rua e a violência digital. Serão nossos pilares”, detalhou.
Terrorismo e facções
O senador se posicionou contra o projeto que equipara facções criminosas a organizações terroristas. “Não vejo como necessário. Facções buscam ganhos financeiros, e não ideológicos e políticos, como organizações terroristas. O que precisamos é trabalhar o agravamento de penas para quem integra essas facções”, argumentou.
Vieira garantiu que, apesar da maioria oposicionista na CPI, o trabalho será conduzido com responsabilidade: “Caberá ao presidente e ao relator a condução firme, para enfrentar as estruturas reais do crime organizado”.
