Caravana indígena parte de Sinop até Belém para protestar contra Ferrogrão
Data de partida é mantida em sigilo por medo de represálias
Grupo de 300 representantes de povos tradicionais percorrerá mais de 3 mil quilômetros até sede da COP 30
A “Caravana da Resposta”, formada por mais de 300 representantes de povos indígenas, movimentos sociais e comunidades tradicionais, partirá na primeira de novembro de Sinop (MT) rumo a Belém (PA), onde ocorrerá a COP30. O dia exato da partida é mantido em sigilo por medo de represálias.
O grupo pretende percorrer mais de 3 mil quilômetros com o intuito de denunciar os impactos do agronegócio sobre a Amazônia e o Cerrado e se posicionar contra a construção da Ferrogrão —ferrovia planejada para ligar o norte do Mato Grosso ao Pará.
O anúncio acontece às vésperas do julgamento do projeto no STF (Supremo Tribunal Federal), marcado pelo ministro Edson Fachin para esta quarta-feira (1º). Fachin assumiu a presidência da Corte na segunda (29) e fará da análise da ação a primeira pauta de seu mandato. A obra está suspensa desde 2023, por decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes.
De acordo com estudos da PUC-Rio em conjunto com a Climate Policy Initiative, a ferrovia pode provocar o desmatamento de 49 mil km² de floresta, além de multiplicar por sete o fluxo de exportação de grãos pelo rio Tapajós. O PSOL questiona, no STF, a legalidade da alteração dos limites do Parque Nacional do Jamanxim (PA) para viabilizar a obra.
“Não vamos permitir que o interesse de grandes corporações, como Cargill e Bunge, destruam nossos rios e florestas. Querem transformar nossas casas em corredor logístico e entregar nossas florestas para enriquecer ainda mais com a soja. Nós vamos defender nossos territórios porque disso depende o futuro de todo mundo”, afirmou Alessandra Korap, liderança Munduruku que participa da caravana.
Além do caráter de protesto, a viagem busca dar visibilidade a alternativas agroecológicas e à produção de pequenos agricultores. O trajeto até Belém incluirá um barco que servirá como alojamento coletivo e Cozinha Solidária durante a COP.
A iniciativa é organizada pela Aliança Chega de Soja, criada em 2024 e que reúne mais de 40 organizações e povos tradicionais.