Brasil

‘Sem celular na mão, as coisas mudam para os alunos’, afirma especialista

Para professora da UnB, porém, banimento planejado pelo MEC é precipitado e deveria vir depois de amadurecimento sobre uso da tecnologia em aula

O plano do governo Lula (PT) de banir o uso do celular em escolas divide especialistas. O anúncio, por meio do MEC (Ministério da Educação), deve acontecer em outubro, mês em que se comemoram o Dia das Crianças e o do Professor.

Tássia Cruz, professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) e pesquisadora do tema, vê como positivo o anúncio do governo. “A experiência internacional nos mostra a importância disso. Sem celular na mão, as coisas mudam para os estudantes.”

Ela cita as experiências de países como Japão e Coreia do Sul, onde a tecnologia é mais comum na rotina escolar, mas são aparelhos desenvolvidos especificamente para aqueles fins.

Para ela, por mais que o celular possa ser usado para fins pedagógicos, não é a prática mais comum. O uso do estudante é quase restrito às redes sociais, tirando a concentração, afirma. Os celulares também têm muita influência na interação entre alunos, diz Cruz. Deixá-los de fora do recreio, por exemplo, pode fortalecer laços de amizade, na opinião da professora.

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que a pasta está trabalhando na elaboração de um projeto de lei porque apenas uma recomendação seria muito frágil. “Nosso objetivo é oferecer às redes de ensino segurança jurídica para que possam implementar as ações que estudos internacionais já apontam como mais efetivas, no sentido do banimento total [dos celulares nas escolas]”, disse.

O ministro afirmou que “estudos mostram que o banimento tem impacto positivo não apenas na atenção em sala de aula e no desempenho dos estudantes, mas também na saúde mental dos professores”.

Catarina de Almeida Santos, professora da UnB (Universidade de Brasília) e membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, acredita ser precipitado impor o banimento de celulares em todas as escolas.

Para ela, isso deveria ser algo escalonado. Primeiro, restringir o uso, testar meios de fazer isso e avaliar as consequências. Depois, discutir também o excesso do que chama de plataformização dos processos educativos —uso de aplicativos e recursos como as apostilas digitais utilizadas nos estados.

“Temos que amadurecer o conceito do uso de celular e suas possibilidades durante as aulas antes de realizar o banimento. A gente ainda não encarou isso com seriedade.”

Ela complementa que o uso dos aparelhos vai muito além da sala de aula, e uma visão geral do problema deveria ser considerada pelo governo antes de qualquer decisão.

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