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Nível do Rio Madeira cai 35 centímetros em sete dias e atinge pior cota para o período

Além de abastecer as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, fluxo d’água é importante para transporte de cargas e passageiros

O nível do Rio Madeira, na área de Porto Velho (RO), caiu 35 centímetros em sete dias e atingiu a marca de 2,56 metros, de acordo com informações divulgadas pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) nesta terça-feira. No dia anterior, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou situação de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos para o Madeira e seus afluentes até 30 de novembro.

De acordo com Marco Suassuna, engenheiro hidrólogo do SGB, as chuvas abaixo da média ao longo de toda estação chuvosa — período compreendido entre novembro e abril — e o início da estação seca — intervalo entre junho e agosto — são os principais motivos para os níveis baixos do Madeira.

Ele relata que a temporada de chuvas demorou para se iniciar, o que acabou prolongando a vazante de 2023 — processo natural em que o nível da água de um rio reduz de forma significativa.

De acordo com a ANA, a declaração de escassez tem como objetivo identificar os impactos sobre usos da água e propor ações que diminuam esses danos, a fim de intensificar o monitoramento hidrológico da bacia do Madeira.

Além do Madeira, o Rio Purus — que corre no Amazonas e no Acre, além do Peru — também teve situação de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos declarada.

“Como resultado, os usos da água estão sendo impactados, especialmente aqueles que dependem de níveis adequados nos corpos hídricos, como a navegação e a geração hidrelétrica”, afirmou a nota.

Impactos nas navegações

Suassuna explica que a estiagem do rio tem implicações socioeconômicas negativas e expressivas para a região. O Madeira é importante para o transporte fluvial de cargas e passageiros e o nível baixo acaba dificultando essa navegação.

— Isso começa a ficar dificultado, principalmente para grandes embarcações. Desde que o Rio chegou na cota de quatro metros, já tem restrição à navegação. A gente está [lidando com] essa dificuldade, e o problema é se essa dificuldade persistir por muito tempo.

O Madeira também abriga duas importantes usinas hidrelétricas: Jirau e Santo Antônio, que operam a fio d’água — isto é, quando as vazões que chegam são praticamente iguais às que saem dos reservatórios. Juntas, elas correspondem a 6,7% do Sistema Interligado Nacional (SIN).

No ano passado, a usina de Santo Antônio interrompeu suas operações por conta do baixo nível de chuvas na região, o que acabou afetando as cotas do Madeira. Suassuna aponta que os trabalhos na usina foram interrompidos quando o rio estava com uma vazão em torno de 3 mil metros cúbicos por segundo.

Atualmente, o rio Madeira está com vazão em torno de 4.100 metros cúbicos por segundo e vem perdendo água, afirma Suassuna.

— Então, é um risco concreto. Existe essa preocupação realmente com impacto para as usinas hidrelétricas.

Seca na Bacia Amazônica

Autoridades, moradores e outras organizações da região passaram a alertar para o nível preocupante dos rios da Bacia Amazônica — que passou por uma seca histórica no ano passado, mas não se recuperou dos impactos totalmente.

No ano passado, o volume dos rios da bacia hidrográfica amazônica chegou aos menores níveis em mais de 120 anos de medição. Em agosto do ano passado, o nível da água do porto de Manaus chegou a 12,7 metros, o menor índice desde o início da série histórica em 1902.

O rio Madeira é um dos mais importantes da bacia e possui área de drenagem de 1,42 milhão de quilômetros quadrados, sendo um dos afluentes do rio Amazonas. Ele possui um trecho navegável de mais de mil quilômetros entre Porto Velho e Itacoatiara, no Amazonas, sendo usado para o abastecimento de água para mais de 400 mil habitantes da capital rondoniense.

— A situação é de preocupação porque o nível do rio está muito baixo — declara Suassuna.

O engenheiro também alerta para o prognóstico desfavorável de chuvas para os próximos meses. Ele indica que, apesar de poder haver precipitações significativas no curto prazo, não há previsões de chuva significativas, que possibilitariam uma recuperação mais rápida dos níveis do rio.

Para o período trimestral, as notícias também não são boas. De acordo com o prognóstico para o inverno deste ano, lançado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a expectativa é de chuvas próximas ou abaixo da média na região Norte.

Agora, as esperanças se consolidam na procura pelos primeiros sinais da estação chuvosa na região, que geralmente só começam em cerca de dois meses, em outubro, informou Suassuna.

— A gente está acompanhando para ver se de repente pode começar um pouco antecipado, o que seria bom, apesar de não ter indícios de que isso possa acontecer.

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