Política

PL do aborto: com políticos e fã-clubes de artistas, oposição ao projeto predomina no X e soma 88% dos perfis do debate

Levantamento da Arquimedes a pedido do GLOBO mapeou 2,3 milhões de publicações na plataforma nos últimos dias

O debate digital em torno do projeto de lei em tramitação na Câmara que equipara o aborto após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio, inclusive em caso de estupro, foi dominado por perfis críticos à medida. É o que aponta um levantamento da Arquimedes, consultoria especializada na análise das plataformas digitais,A análise mapeou 2,3 milhões de publicações na plataforma X (antigo Twitter) entre quarta e as 16h desta sexta-feira. O resultado mostra que 88% das contas que comentaram o tema se opõem ao texto.

A urgência do PL foi aprovada a toque de caixa quarta-feira na Câmara. Dentre os críticos ao projeto que se manifestaram na plataforma, a maioria tem orientação progressista e de esquerda, mas o grupo também agregou setores que, tradicionalmente, não estão diretamente envolvidos no debate político, como fã-clubes nacionais de artistas.

A iniciativa de procurar os perfis de admiradores de cantoras como Anitta, Taylor Swift e Rihanna, partiu da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que está entre os nomes apontados como mais influentes pelo levantamento, junto ao ator Paulo Vieira e ao ativista Lázaro Rosa.

— Constatamos a reação de um grupo muito diverso, uma movimentação próxima à frente ampla observada na eleição de 2022. Esta diversidade indica que a questão mobilizou uma ampla gama de atores sociais e que o tema despertou reação negativa em diferentes grupos da sociedade — avalia Pedro Bruzzi, da Arquimedes.

Em menor tamanho, o grupo com orientação conservadora que atua digitalmente em defesa do projeto é composto por 12% dos perfis. O levantamento aponta que se destacam nomes ligados ao bolsonarismo, como os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Mário Frias (PL-SP), a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o empresário Leandro Ruschel. Ainda que tenham impulsionado a agenda pró-lei, os argumentos defendidos não ganharam apoio nem mobilizaram outros setores no debate amplo.

O levantamento da Arquimedes demonstra a ocorrência de uma forte polarização entre os dois grupos, com pouco diálogo entre eles. Em contrapartida a maior capacidade de mobilização e engajamento da oposição ao projeto de lei, o setor favorável à medida construiu uma rede mais dispersa e menos conectada, que dialoga com um público-alvo mais restrito e menor.

— É natural que o debate sobre o aborto seja politizado e ligado à cena eleitoral. Não avalio que a demora do governo entrar na discussão tenha sido um erro grande, considerando que a formalidade do debate legislativo não foi cumprida pela presidência da Câmara. Uma reação petista, de cara, traria um verniz de governo contra oposição, o que não foi observado — aponta Bruzzi.

Com informações da coluna Sonar de O Globo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Receba mensagem no WhatsApp