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Domésticas cuidam de todo mundo, mas ainda sofrem preconceito e ofensas

No Dia da Empregada Doméstica (27), Heloísa, 8, fala do orgulho da avó Maria Alice, 59, que trabalha faxinando três casas

Primeiro se chacoalha a caixa do sabão em pó até o chão ficar forradinho de uma camada fina de grãos coloridos, depois vem a mangueira molhando tudo de leve. A vassoura faz a maçaroca, e aí é só esfregar. É assim a receita de espuma mágica para limpar o quintal da Vó Alice. Lolô, que sabe tudo de cor, ajuda com os ingredientes todos os fins de semana.

“A vó trabalha limpando a casa dos outros”, diz Heloísa, Lolô para os íntimos, 8 anos de idade. Ela já foi junto algumas vezes para ver de perto como é a profissão de Alice. “Eu fiquei brincando e a vó passou aspirador, passou pano, lavou banheiro. Fica tudo bonito quando a vó faz.”

Vó Alice trabalha bastante. “Ela também faz comida pra casamento. Ela fica muito cansada e sente dor nas costas”, afirma a neta, que há seis anos vem sendo criada pela avó, desde que sua mãe morreu por causa do diabetes.

Maria Alice dos Santos Silva tem 59 anos. Teve seis filhos, a primeira aos 17 anos. “Meu pai era meio machista e achava que mulher não precisava estudar, e deu preferência pros meus dois irmãos. Ele achava que mulheres eram feitas pra serviços domésticos e pra ter filhos”, conta Alice.

Depois que as crianças nasceram, ela retomou os estudos. “Eu trabalhava de dia e estudava de noite. Terminei o ensino médio porque queria fazer faculdade de nutrição. Até fiz um curso de copeiro hospitalar, mas não deu para seguir”, afirma.

Desde que “se entende por gente”, a profissão de Maria Alice é empregada doméstica. “Eu me sinto um pouco frustrada, mas tive que priorizar meu sustento”, diz Alice. Hoje, ela trabalha em três casas durante a semana.

“Eu sempre trabalhei direto, mas a gente vai ficando mais velha e vai diminuindo. Tive dengue e agora fiquei com menos casas, mas aqui eu pago aluguel, a perua da escola, é bastante coisa. Mas faço salgado pra fora, nos eventos de fim de semana da igreja que eu frequento. E a Lolô tá sempre comigo, eu falo que ela é meu chaveirinho!”, conta Vó Alice.

Para Lolô, a profissão da avó é valorosa. “Eu tenho orgulho dela!”, afirma. Por outro lado, há quem veja com desdém as empregadas domésticas, e pense que dizer que alguém tem esse trabalho é um tipo de ofensa. “Xingaram nossa mãe, dizendo que era empregada, que tinha que lavar louça, lavar roupa”, contou um menino de 15 anos que viveu uma situação difícil.

No começo do mês, ele e seus colegas participaram de um jogo de futebol em um torneio com outras escolas em Brasília. Seus adversários usaram palavras como “macaco”, “pobrinho” e “filho de empregada” para praticar racismo e discriminação, deixando todos muito abalados.

“A ideia de que ser ‘filho de empregada’ é algo pejorativo tem a ver com a forma como o racismo funciona no Brasil. É violento, perverso e racista que termos como esse sejam utilizados para ofender crianças e adolescentes, especialmente quando pensamos em como o trabalho doméstico é essencial para a vida de todas as pessoas”, diz a pesquisadora Taís de Sant’Anna Machado, doutora em sociologia pela Universidade de Brasília.

Taís é autora do livro “Um Pé na Cozinha – Uma Análise Sócio-Histórica do Trabalho de Cozinheiras Negras no Brasil” (editora Fósforo), e explica por que grande parte das mulheres que trabalham como domésticas no Brasil é negra.

Leia a matéria completa na Folha de São Paulo acessando o link abaixo:

https://www1.folha.uol.com.br/folhinha/2024/04/domesticas-cuidam-de-todo-mundo-mas-ainda-sofrem-preconceito-e-ofensas.shtml

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