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Ribeirinhas do cacau selvagem na Amazônia

Ribeirinhos trabalham na extração de cacau selvagem na Amazônia. Fruta é uma das matérias-primas do chocolate, tradição durante a Páscoa

Uma das tradições da Páscoa, comemorada neste domingo (31/3), é a troca de chocolates com amigos e familiares, mas, para chegar até a prateleira das lojas, o item passa por uma longa viagem. A reportagem do site Metrópoles conversou com ribeirinhos responsáveis pela extração de cacau selvagem no Pará.

Por ser um fruto natural da Amazônia, a colheita é realizada em áreas de preservação florestal. Uma forma de levar o sustento para dentro de casa, sem precisar destruir o meio ambiente.

Nilce Maia é natural de Mocajuba, no Pará, mas deixou a cidade para se formar em pedagogia e construir uma família em Belém, capital do estado. Após alguns anos, junto com o marido, José Rubens dos Prazeres Maia, Nilce decidiu comprar uma propriedade do pai dela, onde poderia trabalhar com a extração de alguns frutos, em especial o cacau.

“Nosso foco maior no início era o açaí, por parte do meu esposo, (mas) com a morte dele, a gente teve de se reinventar. Como eu tinha essa experiência, a gente começou a trabalhar com o cacau, mas de forma bem primitiva, artesanal, sem dar valor à amêndoa”, relata Nilce.

“Cacau na minha vida é sinônimo de vida, mesmo. Sinônimo de bem-estar, sinônimo de prazer de cuidar da natureza e de não deixar que se perca toda essa originalidade do nosso cacau”, destaca a produtora ribeirinha.

Apesar de o cacau ser natural da Amazônia, uma das principais preocupações de Nilce na extração do fruto são as mudanças climáticas, que tem mudado a produção na região.

“Precisa ser feito um trabalho de conscientização das pessoas pela preservação das florestas. Você não precisa destruir uma floresta para ter uma plantação”, enfatiza Nilce.

A produtora relata que a seca extrema no fim do ano passado prejudicou a extração de cacau na propriedade da família; por isso, ela fala sobre a importância do cuidado com o meio ambiente.

Produção comunitária

Zeno Julio Gemaque trabalha na produção de cacau desde 2012 em Acará-açu, no Pará. Ele também atua na comercialização de outros frutos naturais da Amazônia, como a castanha-do-pará.

“São 42 famílias envolvidas no processo do cacau. Como nós não tínhamos nenhum produtor com muito cacau, a gente fez um modelo para cada um tirar um pouco da sua propriedade”, explica Zeno sobre o processo de extração.

Depois da colheita, os produtores encaminham o cacau para secagem, seleção e distribuição, que ocorre a partir da propriedade de Zeno.

Tanto Zeno como Nilce trabalham com a extração de amêndoas de cacau para produção de chocolates finos. Um dos clientes dos produtores é a De Mendes Chocolates, que forneceu oficinas de produção do fruto fino, sem perder itens especiais do cacau.

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“A gente que trabalha com cacau fino tem um público bem específico. Um público que consome com uma certa regularidade, mas é um público que consome o cacau como se fosse um alimento, reconhece todo o bem que faz para a saúde”, conta Zeno.

O produtor de Acará-açu informa que as propriedades da região tinham como foco inicial apenas monoculturas, principalmente de açaí e mandioca, mas, com a valorização do fruto, foi possível levar uma renda extra para os moradores da região.

“Com o cacau, a gente conseguiu essa valorização, agregando valor no produto. A gente conseguiu mostrar dentro do território que o cacau é uma grande fonte de renda e que não precisa derrubar ou acabar com a floresta para plantar o cacau. Vai ter a mesma produtividade da monocultura? Não vai ter, mas a gente consegue um equilíbrio”, salienta Zeno.

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https://www.metropoles.com/brasil/chocolates-ribeirinhos-da-amazonia-sao-guardioes-do-cacau-selvagem

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