Indígenas Munduruku estão com níveis alarmantes de mercúrio no corpo
Os pesquisadores da Fiocruz estão acompanhando de perto 80 crianças Munduruku em busca de uma resposta científica para o que está acontecendo, especialmente com as crianças. Um grupo de neuropediatras da USP e de Harvard está analisando os casos.
Um estudo da Fiocruz mostra que indígenas do interior do Pará estão com níveis alarmantes de mercúrio no corpo. Uma equipe da GloboNews percorreu a região para mostrar o impacto do garimpo ilegal no povo Munduruku.
“O rio não é o mesmo, você já não consegue mais enxergar os peixes que estão lá no fundo”, disse Jairo Saw Munduruku, cacique.
O povo Munduruku é o mais populoso do Pará, com mais de 9,2 mil pessoas. O cacique Jairo viu este lugar se transformar, e quem vive nele também.
“A gente começou a notar assim, alguns sintomas de criança, com dificuldade de se movimentar, mobilidade, então, algumas doenças que vinham apresentando e a gente não sabia o que era”, acrescentou.
Em busca de respostas, a Fiocruz enviou pesquisadores para a região. O estudo constatou que os peixes estavam contaminados por mercúrio. E o mais grave: o povo Munduruku já estava contaminado.
“O que mais assustou era que era as mulheres que estavam mais contaminadas (com mercúrio). E muitas mulheres, o próprio médico falava, que o leite materno das mulheres que amamentava, que estava contaminando também as crianças”, afirmou Alessandra Korap, liderança indígena.
A Fiocruz analisou amostras de cabelo dos indígenas. Só em uma aldeia, pelo menos oito pessoas tinham níveis alarmantes de mercúrio no corpo. Alguns o dobro, um deles o triplo do aceitável pela OMS.
O resultado trazia um alerta: estas pessoas tinham alto risco de adoecer. Em entrevista à GloboNews, um dos coordenadores da pesquisa da Fiocruz, o epidemiologista Paulo Basta, explicou o que isso causa no desenvolvimento da criança.
“A criança pode nascer com deformidades, com má deformação congênita, com diferentes anomalias, pode apresentar paralisia cerebral”, explicou Basta.
Os pesquisadores da Fiocruz estão acompanhando de perto 80 crianças Munduruku em busca de uma resposta científica para o que está acontecendo, especialmente com as crianças. Um grupo de neuropediatras da USP e de Harvard está analisando os casos.
O mercúrio é usado por garimpeiros na purificação do ouro. A terra indígena Munduruku, em Jacareacanga, no Pará, é a segunda com maior área de garimpo no país, segundo estudo da ONG MapBiomas.
A reportagem navegou em direção ao Rio das Tropas, uma das áreas mais atingidas e ameaçadas pelo garimpo em Jacareacanga. Por lá, no ano passado, a Polícia Federal recebeu 320 alertas de novos garimpos explorados dentro da terra indígena.
Do alto, é possível ver o retrato da devastação. No vídeo exibido no JN mostra um ativo dentro da terra Munduruku. É possível ver uma pá carregadeira, dragas usadas pelos garimpeiros e pessoas circulando pelo local.
“Garimpo traz a poluição, a destruição. E vem adoecendo os peixes, adoecendo a gente, trazendo malária, trazendo violência, traz tudo né?”, completou o epidemiologista.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que o Distrito Sanitário Especial Indígena Rio Tapajós tem implementado ações de monitoramento para acompanhar pacientes que apresentam altos teores de contaminação por mercúrio.
Matéria original do Jornal Nacional