Amazonas

Seca histórica na Amazônia pode levar floresta a ponto de ‘não retorno’?

Em reportagem publicada no dia de ontem (20), uma equipe da BBC esteve na região  e conversou com especialistas e moradores sobre a situação

A floresta amazônica tem enfrentado nos últimos meses a seca mais intensa já registrada. Um dos rios da região, o Rio Negro, atingiu seu nível mais baixo desde que começaram os registros, há 121 anos.

Vilarejos da região que dependem da navegação estão ficando inacessíveis, enquanto incêndios florestais queimam parte da vegetação e animais morrem.

Muitos cientistas temem que eventos como esse estejam contribuindo para levar a maior floresta tropical do mundo a um ponto de não retorno, em que o bioma não seria mais capaz de gerar as chuvas que o mantêm e que levaria a um processo de savanização da floresta.

Os recordes de calor e seca na floresta amazônica estão aumentando os temores de que ela esteja atingindo um momento crítico

Muitas aldeias ficaram inacessíveis pelos rios, as queimadas se espalharam e os animais morreram. Cientistas temem que eventos como estes estejam ajudando a levar a maior floresta do mundo ao seu ponto de não retorno.

Observando as margens rachadas e escaldantes do rio ao nosso lado, Oliveira Tikuna começa a ter dúvidas sobre a viagem. Ele está tentando chegar à sua aldeia em uma canoa de metal, construída para navegar nos menores córregos da Amazônia.

Bom Jesus do Igapó Grande é uma comunidade de 40 famílias no meio da floresta, no Estado do Amazonas. Ela foi muito atingida pela pior seca já registrada na região.

Não havia água para tomar banho. Safras de banana, mandioca, castanhas e açaí estragaram porque os produtos não conseguiam chegar à cidade a tempo para o consumo.

O pai de Oliveira é o chefe da aldeia. Ele aconselhou a todos os idosos e pessoas doentes que se mudassem para mais perto da cidade, já que a aldeia fica longe do hospital e os riscos são grandes.

Oliveira quis nos mostrar o que está acontecendo. Ele nos alertou que seria uma longa viagem.

Mas, quando saímos do vasto rio Solimões e entramos no riacho que leva à sua aldeia, até Oliveira se surpreende. Em alguns trechos, o riacho está reduzido a um córrego com não mais de 1 metro de largura. Em pouco tempo, a canoa atola no leito do rio. É hora de sair e puxar.

“Tenho 49 anos de idade e nunca vi nada igual antes”, diz Oliveira. “Nunca nem ouvi falar de uma seca tão forte quanto esta.”

“Se secar mais do que isso, minha família vai ficar isolada por lá”, receia ele.

“Para chegar ou sair, eles precisam atravessar a pé o leito de um lago no outro lado da aldeia. Mas é perigoso – existem cobras e jacarés por ali.”

“Quando vi minha primeira seca, eu pensei: Uau, isso é horrível. Como isso pode acontecer com a floresta?”, conta a bióloga especializada em ecologia vegetal Flávia Costa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Ela mora e trabalha na floresta há 26 anos.

“E depois, ano após ano, os recordes vêm sendo quebrados. Cada seca é mais forte que a anterior.”

Costa afirma que é cedo demais para avaliar o tamanho dos danos da seca deste ano. Mas seus colegas descobriram muitas plantas “exibindo sinais de estarem mortas”.

As últimas estações secas dão sinais do dano que pode ser causado. Algumas estimativas dão conta que a “seca Godzilla” de 2015 matou 2,5 bilhões de árvores e plantas em apenas uma pequena parte da floresta. E ela não foi tão forte quanto a seca atual.

“Em média, a Amazônia parou de funcionar como sifão de carbono”, afirma Costa. “E esperamos basicamente o mesmo agora, o que é triste.”

Além de abrigar uma variedade extraordinária de biodiversidade, a Amazônia armazena cerca de 150 bilhões de toneladas de carbono, segundo várias estimativas.

Muitos cientistas temem que a floresta esteja se dirigindo para um momento crítico, no qual ela seca e desaparece, transformando-se em uma savana.

A matéria original é da BBC News e republicada também no Correio Brazieinse

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv2mpvq1n4ro

https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2023/12/6773279-devastador-moradores-da-amazonia-temem-que-seca-historica-seja-prenuncio-de-ponto-de-nao-retorno.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Receba mensagem no WhatsApp