Polícia

General Mansur investigado por esquema de extorsão a grupos criminosos na pasta de Segurança do Amazonas, diz ao Globo estar de consciência tranquila

Carlos Mansur foi afastado do cargo de secretário pelo governador Wilson Lima após Operação Comboio vir à tona. Ele chegou a ser preso por porte ilegal de arma, mas pagou fiança

General Mansur: militar foi afastado do cargo de secretário de Segurança Pública após investigações — Foto: Reprodução

Extorsão e corrupção envolvendo grupos criminosos, lavagem de dinheiro. Esses são alguns dos crimes que o Ministério Público do Amazonas suspeita que ocorreram na alta cúpula da Secretaria de Segurança Público amazonense sob a gestão do general Carlos Alberto Mansur, exonerado do cargo de secretário após a investigação vir à tona. Alvo de mandado de busca e apreensão na chamada Operação Comboio, do MP e da Polícia Federal, o militar do Exército chegou a ser preso na última terça-feira por porte ilegal de arma, mas foi liberado em seguida após pagar fiança. Seu filho também foi alvo da ação. No fim da tarde desta quinta, o ex-secretário se manifestou através de duas notas publicadas nas redes sociais – uma assinada por ele, direcionada aos seguidores, e outra escrita pelos advogados, endereçada à imprensa.

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Na carta, Mansur diz ser inocente e acrescenta que deixa a pasta “com a consciência tranquila”. Agradece ainda ao governador Wilson Lima (União Brasil) por tê-lo escolhido para ocupar o cargo de secretário e destaca quedas nos índices de violência no estado durante sua gestão.

“Em toda a minha vida pública, como oficial do Exército Brasileiro, cumpri 44 anos e seis meses de extrema dedicação, cheguei aos mais altos postos da instituição, passando por várias funções de direção, chefia e comando, servindo em várias regiões do Brasil, principalmente na Amazônia. Também representei o Exército Brasileiro em países como a China, Vietnã, Coréia do Sul, bem como na Guatemala representando o exército brasileiro na Organização das Nações Unidas. Em nenhum desses momentos jamais manchei a minha imagem e a do Exército Brasileiro”, escreveu Mansur. “Na Segurança Pública também mantive a mesma conduta ilibada, pautando minha gestão na ética, na integridade, na transparência e na justiça. Por fim, diante dos fatos ocorridos nos últimos dias, reafirmo o meu compromisso com a legalidade, levando comigo a consciência tranquila de que dei o meu melhor em prol do sistema de segurança pública do Estado do Amazonas. Acredito na Justiça e sei que a verdade virá à tona com a maior brevidade”, concluiu.

No segundo comunicado, assinado pelos advogados de defesa do general Emerson Paxá, Raphael Grosso Filho e Lucas Botero, a defesa reforça que a investigação corre sob sigilo e que, por isso, não pode comentar trechos específicos que foram veiculados na imprensa. Mas reforça que acredita na inocência do cliente e que será comprovada a “ausência de qualquer envolvimento” de Mansur no esquema investigado pelo MP.

“Apesar das limitações decorrentes do segredo de justiça, a defesa, em nome de seu constituinte, reitera publicamente a inocência do General Carlos Alberto Mansur, na certeza de que, em absoluto, não está de qualquer maneira envolvido em quaisquer tipos de desvio de condutas, quiçá no cometimento de delitos. No presente instrumento é indispensável ressaltar que, ao contrário das caluniosas matérias que vêm sendo veiculadas pela imprensa, o general Carlos Alberto Mansur é um renomado militar brasileiro que construiu uma carreira extensa e exemplar ao longo de sua trajetória. Com vasta experiência e conhecimento nas áreas de defesa e segurança, ele ocupou diversos cargos de destaque”, diz a defesa, que acrescenta que o general é conhecido “por sua liderança firme e competente, sempre pautada pela transparência e pelo respeito às leis e normas vigentes”.

“A defesa segue firme na crença da inocência de seu cliente notadamente diante do cenário probatório contido na investigação, de que logo o fato será esclarecido pelas autoridades encarregadas pela apuração e que, principalmente, o nome do General Carlos Alberto Mansur tomará a ser destacado apenas por sua honra, integridade, probidade, honestidade e por todo serviço prestado a nossa amada nação ao longo de seus mais de 40 anos dedicados à vida militar que lhe concederam com mais de 50 medalhas de condecorações das mais diversas e altas honrarias do Exército Brasileiro e diversas entidades da sociedade civil. Por fim, a defesa, em nome de seu constituinte, segue firme, convicta e se coloca como a principal interessada no esclarecimento dos eventos sob a apuração da denominada operação que com certeza resultará na demonstração da ausência de qualquer espécie de envolvimento do General nos delitos sob apuração”.

As investigações

Esta semana, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em residências da alta cúpula da pasta. A Operação Comboio ocorreu de forma simultânea em Manaus e Apuí, no Amazonas, e na cidade de São Paulo. Além do secretário, general Carlos Mansur, outras cinco pessoas foram alvo da ação. Na lista estão dois capitães, um comissário, um coronel e Victor Mansur, que é filho do secretário.

Em uma das supostas práticas criminosas investigadas, os membros do esquema – servidores da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas – chegavam até usar viaturas das forças de segurança, para abordar e extorquir chefes de tráfico na capital, segundo publicado pelo portal G1.

– As extorsões eram feitas por agentes públicos, que se utilizavam dos seus conhecimentos e da estrutura da secretaria de segurança pública para ir atrás de pessoas e realizar esse tipo de conduta – explicou o promotor do Ministério Público Igor Starling à Rede Amazônica, afiliada da TV Globo.

O promotor, que também coordena o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), explicou que as investigações revelaram como o grupo lavava dinheiro: contratavam postos de combustíveis e realizavam o pagamento pelo serviço de abastecimento. O combustível, no entanto, nunca chegava a ser repassado para a SSP-AM.

O governo estadual publicou uma nota após a exoneração de Mansur:

“O Governo do Amazonas informa a exoneração do Secretário de Estado de Segurança Pública, general Carlos Alberto Mansur, com o objetivo de que não haja qualquer tipo de interferência nas investigações coordenadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público do Estado e Polícia Federal, que resultaram na operação Comboio, deflagrada nesta terça-feira (29). O Governo do Estado destaca que os servidores efetivos, também investigados e alvos da operação, foram imediatamente afastados das funções que ocupavam e as demais providencias administrativas serão adotadas a fim de esclarecer os fatos. Já os servidores comissionados foram exonerados dos cargos. Por fim, o governo reforça que está auxiliando nas investigações, prestando todas as informações necessárias e que não compactua com quaisquer irregularidades ou atos ilícitos cometidos por servidores públicos”.

Procurada, a Polícia Federal não se manifestou sobre a operação.

Por Arthur Leal,do Globo

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