Alimentos ultraprocessados geram custos ao SUS de 1,4 bilhões ao ano
Estudo destaca impacto financeiro para o sistema no Brasil, e calcula perdas previdenciárias e econômicas
O consumo de ultraprocessados no Brasil gera um custo anual de R$ 10,4 bilhões. O valor inclui os gastos diretos no Sistema Único de Saúde (SUS), perdas econômicas indiretas associadas à mortes prematuras e gastos com benefícios previdenciários e licenças médicas.
O valor foi calculado por Eduardo Nilson, pesquisador da Fiocruz Brasília e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP, em estudo inédito realizado a pedido da organização ACT Promoção da Saúde.
Segundo a pesquisa, os ultraprocessados geram ao SUS despesas de R$ 933,5 milhões ao ano. O resultado considera os gastos com internações, atendimentos ambulatoriais e medicamentos voltados ao tratamento de obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão.
Nilson argumenta que há evidências consolidadas na literatura científica que associam obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão, que estão entre as doenças crônicas mais prevalentes no Brasil, ao consumo de ultraprocessados. Ele ressalta que o valor final apontado pelo estudo, apesar de elevado, é conservador:
— Mesmo considerando essas doenças, utilizamos uma abordagem que é bem conservadora. Não buscamos superestimar nada, pelo contrário, adotamos premissas que subestimam o impacto — afirma o pesquisador.
Os maiores custos diretos referem-se ao tratamento de doenças associadas a diabetes tipo 2 (41% do total). Além do custo direto ao SUS, a pesquisa estima que R$ 263 milhões sejam direcionados anualmente para gastos previdenciários (aposentadoria precoce e licenças médicas) e por absenteísmo (internações e licenças médicas) ligado a essas doenças.
Produtos industriais que passam por várias etapas de processamento, os ultraprocessados incluem uma combinação de ingredientes refinados, como gorduras e amidos, com aditivos químicos, como corantes e aromatizantes. De baixo valor nutricional, a categoria inclui refrigerantes, salgadinhos e biscoitos recheados, entre outros.
O resultado aponta que a maior parte do impacto econômico vem das perdas indiretas causadas pelas mortes prematuras ligadas ao consumo de ultraprocessados. O valor soma R$ 9,2 bilhões por ano para a economia brasileira e considera a estimativa de que o Brasil tenha 57 mil mortes precoces — isto é, em pessoas de 30 a 69 anos — atribuíveis a esses produtos.
O cálculo estima a redução da ganhos na população em idade ativa devido à saída precoce de trabalhadores do mercado. Fatores como salário médio, taxa de emprego e idade média de aposentadoria foram considerados. A análise incluiu apenas adultos – homens de 20 a 65 anos e mulheres de 20 a 60 anos.
— Esse custo leva em consideração os trabalhadores e trabalhadoras formais no Brasil e a projeção da perda salarial com essas mortes, considerando salário médio da população — ressalta Eduardo Nilson, da Fiocruz. — Quando o indivíduo sai do mercado, você tem uma perda irreparável porque ele não é substituível.
Impacto dos ultraprocessados
O detalhamento das mortes precoces por estados revela que em sete unidades da Federação o impacto dos ultraprocessados é maior que a média nacional de 10,5%. Entre eles estão Rio Grande do Sul (13%), Santa Catarina (12,5%) e São Paulo (12,3%).
Estimativas de perdas econômicas associadas a mortes prematuras já foram realizadas para produtos como cigarro e álcool, mas este é o primeiro estudo que calcula esse impacto pelo consumo de ultraprocessados.
O estudo utilizou uma metodologia que mede o impacto do consumo de ultraprocessados na saúde, assumindo que não há nível seguro para o consumo desses produtos. A análise calculou quanto as doenças e mortes poderiam diminuir caso o consumo fosse reduzido ao mínimo possível, usando um método chamado Fração Atribuível Populacional.
Marília Albiero, coordenadora de inovação e estratégia da ACT Promoção da Saúde, ressalta que o cálculo dos gastos do país com os ultraprocessados são pertinentes em um momento em que o Congresso discute a regulamentação da reforma tributária, que definirá a carga a ser paga por essa classe de alimentos:
— Embora já esteja certo que tabaco e álcool vão entrar no imposto seletivo, as discussões sobre alimentação ainda precisam evoluir muito. Estamos no processo de fazer com que as evidências científicas ganham envergadura e projeção.
A matéria original é de O Globo e pode ser acessada na versão online pelo link a seguir