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Apreensão de drogas cresce em estados da Amazônia que reduzem desmatamento, diz centro do Ministério da Justiça

Segundo o estudo realizado pelo Cdesc, que foi lançado nesta quarta (26) _ Entre esses estados, somente o Amazonas não registrou aumento na apreensão de maconha, apresentando uma queda de apenas 3,7%, o que é relativamente pequeno considerando a magnitude das variações nas demais unidades federativas

Um estudo preliminar realizado pelo Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc), que está vinculado à Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça, identificou que os estados que compõem a Amazônia Legal e tiveram redução no desmatamento entre 2022 e 2023 também viram crescer o número de apreensões de ao menos um tipo de droga.

De acordo com o levantamento, Acre, Amazonas, Pará e Rondônia reduziram o desmatamento por quilômetro quadrado no período analisado e tiveram alta na apreensão de maconha ou de cocaína, quando não das duas drogas.

Em Rondônia, estado que registrou a maior redução percentual (25,1%) em suas taxas de desmatamento e diminuiu em 41,4% suas áreas desmatadas, houve um aumento de 179,5% nas apreensões de maconha por polícias estaduais e de 8,1% nas apreensões de cocaína.

Já o Pará, que manteve-se estável e viu o desmatamento aumentar apenas 1,4% de um ano para o outro, viu a apreensão de maconha crescer 200,1%, e a de cocaína, 124,3%.

“Entre esses quatro estados, somente o Amazonas não registrou aumento na apreensão de maconha, apresentando uma queda de apenas 3,7%, o que é relativamente pequeno considerando a magnitude das variações nas demais unidades federativas”, diz o estudo.

No caso amazonense, foram registradas quedas de 20,6% e de 37,9% nas taxas de desmatamento e de áreas desmatadas, respectivamente. Apesar da ligeira redução na apreensão de maconha no estado, a apreensão de cocaína subiu 50,8% de 2022 para 2023.

O Amapá, por outro lado, figura entre os estados que registraram aumento nas taxas consolidadas de desmatamento, com 58,3%, mas teve um aumento de 256,5% nas apreensões de cocaína. As apreensões de maconha, contudo, sofreram uma queda de 33,6%

Intitulado “Tráfico de Drogas na Amazônia e Efeitos no Meio Ambiente: Uma Análise Exploratória”, o estudo será divulgado nesta quarta-feira (26), em Brasília, durante cerimônia que também marcará o lançamento oficial do Cdesc.

O centro começou a ser estruturado no ano passado e tem feito monitoramentos desde então. Seu principal objetivo é fornecer subsídios para a atuação da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, hoje comandada pela secretária Marta Machado.

O estudo buscou investigar as possíveis relações entre a atuação de organizações criminosas que traficam drogas e a degradação do meio ambiente. Foram utilizados dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública do Ministério da Justiça, da Polícia Federal e de secretarias de segurança pública. Outras pesquisas de aprofundamento nos dados encontrados estão previstas.

Os autores fazem um alerta para o que chamam de uma tendência de desmatamento próximo a terras indígenas e para a proliferação de pistas de pouso não registradas nassas áreas.

Levantamento feito pelo Mapbiomas no ano passado identificou 2.869 pistas na Amazônia, sem distinção entre autorizadas ou não autorizadas. O número é mais do que o dobro das que constam nos registros da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Deste total, 28% (804 pistas) estão dentro de alguma área protegida: 320 ficam em terras indígenas, e outras 498, no interior de unidades de conservação.

“Isso requer novos levantamentos de informações para melhor compreender como o mercado ilícito tem afetado as populações indígenas”, afirma o Cdesc.

O estudo ainda destaca que a atuação do tráfico de drogas nesses contextos costuma envolver a apropriação ilegal de terras para cultivo de coca e cannabis, incluindo territórios indígenas e protegidos, bem como o trabalho forçado de povos originários e esquemas de proteção e de extorsão.

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